Ligia Schincariol


Origem emocional das doenças – Parte 4 - Bruno Rodrigues

“A origem do câncer está na mágoa profunda, ressentimento antigo ou pessoa que carrega ódios” – Louise L. Hay



Confesso que fiquei dias e dias para escrever este texto e agora horas e horas para começá-lo. Como falar de uma maneira simples sobre um assunto tão complexo. Se tudo o que li nos últimos meses a respeito forem aqui colocados teríamos páginas e mais páginas de muita explicação.



Não quero pecar pelo excesso, mas também não quero pecar pela falta e nem fazer parecer que o câncer é algo superficial ou fácil de ser tratado, de forma alguma quero isso. A grande maioria de nós possui histórias de pessoas ao nosso redor que passaram por esta experiência. Mas não se lembrem de histórias tristes neste momento, aproveite a leitura para ver e entender como temos a capacidade de modificar a nossa vida.



Assim como outras doenças, o câncer demonstra que algo está errado dentro de nós. Se no campo biológico encontramos células que mudam de comportamento, emocionalmente em algum momento tivemos a mesma situação. Não existe uma regra geral de motivo emocional, cada órgão apresenta sua especificidade. Começo citando um caso que presenciei, assim fica mais fácil a explicação.



Alguns anos atrás, ao final de uma palestra, um homem de mais de 50 anos foi me parabenizar, dizendo que gostou muito do que ouviu e que aquelas palavras lhe ajudaram muito devido ao momento delicado que vivia. Neste instante ele virou seu rosto e mostrou para mim uma grande “bolota” no seu pescoço, sim, ele estava com um tumor maligno e bem grande. Notei em seu olhar a tristeza do momento, mas ao mesmo tempo uma forte vontade de viver, em cerca de 10 minutos me contou sua vida, de que sempre teve comércio e por muito tempo usou a “voz” (a fala) para enganar seus compradores, clientes, vendendo produtos não tão bons. Falou do quanto se arrependia e que atualmente fazia quimioterapia, radioterapia e tratamento espiritual na religião que frequentava.



Trocamos e-mail, interessei-me muito por aquele homem e em especial pela sua vontade de viver. Três meses depois dei nova palestra no mesmo lugar (eu ia a cada 3 meses) e ao final ele me procurou novamente, já não tinha “bolota” (como ele mesmo denominava) no pescoço, estava sorridente, de barba feita e durante a conversa ele me disse que os tratamentos estavam surtindo efeito mas que o tumor ainda estava bem ativo, me chamou muito atenção quando ele disse:

- Rapaz, hoje este câncer é meu melhor amigo!


Sinceramente não entendi o que ele quis dizer e pedi que me explicasse, ele então respondeu:

- Eu tenho aprendido muito com este câncer. A vida inteira fui orgulhoso e dono da razão, desde que este câncer apareceu, eu tinha vontade de criticar as pessoas ou reclamar da vida, mas sempre que eu ia falar doíam minhas cordas vocais, eu comecei a evitar falar, e parei de reclamar e assim passei a ouvir mais minha esposa. Confesso que nunca dei valor para ela e só agora eu fui percebendo que mulher incrível eu tenho ao meu lado. Sempre atenta, serena, carinhosa, prestativa, nunca havia percebido, afinal eu nunca parei para ouvi-la, eu apenas exigia, cobrava. O câncer foi me fazendo “ficar pianinho, pianinho”.
Nisso ele tinha lágrimas nos olhos e continuou dizendo:
- O mesmo aconteceu com meus filhos, que homens incríveis, infelizmente eu não acompanhei o crescimento deles, não vi o primeiro dia na escola, não vi o primeiro joelho ralado, eu só me importava em trabalhar e trabalhar e cobrar boas notas. Agora percebo que homens incríveis eu tenho e quanto tempo perdi.



Notei que apenas ali, próximo aos 60 anos aquele homem começava aprender a viver e o melhor é que apesar do arrependimento do passado ele tinha muita vontade de fazer diferente daqui para frente.



Trocamos alguns e-mails, ele me contava dos progressos, das descobertas internas, da dificuldade que foi abraçar seus filhos pela primeira vez, afinal eles não foram educados desta forma, quase nunca recebiam um abraço do pai. Um dos últimos e-mails que recebi, ele me avisava da cirurgia para retirada do tumor, era véspera de Natal, eu vi, li, e fiquei na torcida por ele.



Dias depois recebi o melhor presente de Natal que poderia receber, ele me contando que os médicos “abriram” o pescoço e não encontraram nada. Nadinha de tumor e seu caso foi estudado, virou estudo de caso.



Alguns podem chamar de milagre, mas dizer isso tiraria todo o mérito dele. Ele se modificou por dentro. Acredito em um trabalho mútuo, onde ele cuidou do físico, mental, emocional e espiritual. Algumas pessoas retiram o tumor e ele volta, volta porque não mudaram a causa, a matriz.



Observemos este caso, ele por toda uma vida mentiu, enganou, seja na profissão e também na vida pessoal, com o passar do tempo se arrependeu, mas não tinha coragem de confessar tudo o que havia feito, existia um grande conflito interno, não existia harmonia interior, por dentro ele estava desorganizado e acabou gerando um câncer na garganta que afetou totalmente suas cordas vocais, sua fala. Ele passou a se perguntar o que o câncer tinha a lhe ensinar e aprendeu tanto com aquela situação, que chegou a dizer que era seu melhor amigo. Ele encarou o desafio.



Fez sua parte, buscou ajuda espiritual dentro de sua fé, buscou ajuda emocional com especialista e cuidou da parte física com medicação. Tornou-se outro homem? Prefiro dizer que o verdadeiro homem que ele era finalmente apareceu. Hoje temos pouco contato mas sei que é muito ativo ajudando crianças e contando boas histórias (usando a voz a favor da paz agora).



O dr. Thorwald Dethlefsen usa uma expressão bem forte quanto diz:

“Não é preciso vencer o câncer: ele tem de ser compreendido, para que nós também possamos compreender a nós mesmos. Mas os homens sempre quebram seus espelhos quando a imagem não os agrada!”



Não é fácil ter a humildade do caso acima descrito, ver os erros e aceitar fazer diferente. Alguns preferem a morte, como final de história, ao invés de reescrever a mesma.



Algumas pessoas querem controlar até a projeção do espelho…




“O tratamento tinha um prazo de seis meses. Pensei: nesse tempo vou virar uma chavinha, nada mais vai me importar a não ser me curar.”



Outro caso atual e famoso é do ator Reinaldo Gianecchini. Acompanhei todo o processo através da mídia, li suas entrevistas e desde a descoberta do câncer até a superação ele sempre se mostrou muito otimista. Ele diz “meu transplante foi um renascimento” e sempre comenta que hoje se sente um homem novo, que não se arrepende de nada do processo pelo qual passou pois aprendeu a dar mais valor às coisas, às pessoas, a um simples olhar, um sorriso, uma voz. Lembro de ver uma entrevista na qual ele disse que curtiu a careca e depois curtiu ver os cabelos crescendo, sentir seus músculos crescerem novamente.
Em uma entrevista à revista Época ele conta que antes do câncer sua casa era meio vazia, só tinha moveis preto e branco, nenhum objeto. E ele disse:

“Passei a fazer terapia e descobri que a casa é você. Comecei a encher as prateleiras de objetos de antiquário, transformar livros antigos em mesa, pintar parede de laranja e até pensei em fazer faculdade de arquitetura. Mudei tudo internamente com a doença. Tenho uma nova medula. E mudei minha casa. Agora tenho cantinhos que representam meu desejo de aventura, de pegar uma moto e sair pela América Latina.”



Através do processo de psicoterapia Giane passou a ter contato com suas reais vontades, aspirações e a se indagar, por que nunca fui quem sempre quis ser? (aproveito para perguntar: E você é quem gostaria de ser? Ou você se moldou a uma realidade supostamente necessária?)


As palavras a seguir de Giane dizem muito:

“Comecei a fazer terapia para fuçar em mim tudo o que havia para fuçar, porque era o momento. A gente vive o dia a dia como se a morte não fosse uma certeza. A gente devia viver sempre com a certeza de que amanhã a gente pode morrer. Tanta coisa fica tão pequena, tão sem valor diante da possibilidade da morte. Decidi viver o presente, que é maravilhoso, sem passado e futuro. Comecei a viver de forma tão intensa que até nos momentos de introspecção eu ia muito fundo.”*



Medos, traumas, orgulho ferido. Tanta coisa a mudar, mas na correria do dia a dia deixamos para depois, aliás, nos deixamos para depois, até que vem uma doença e “obriga” a pessoa a parar e se olhar mais e se amar e se perdoar…



Quando um paciente chega até mim e este tem o diagnóstico do câncer eu recomendo que ele siga todas as instruções médicas, que são muito importantes. Pergunto se tem alguma religião e se tiver convido-o a abraçar ainda mais esta religião, se é católico que busque o padre, se confesse, comungue, se é evangélico que frequente sua igreja, faça suas orações, se é espirita que busque tomar passes, fazer suas preces, e o mesmo com as demais religiões. Assim estará cuidando do seu corpo e da sua espiritualidade. E ali, comigo, a partir de então cuidaremos da emoção, das mágoas que ficaram dos arrependimentos, das pessoas que não perdoou ou para quem não pediu perdão, enfim, começamos a arrumar as coisas por dentro, no melhor sentido da expressão, até porque, a harmonia interior, reflete no exterior.



Quando um câncer é diagnosticado, mostra que se materializou uma desorganização que já existia no campo da emoção.



Reafirmo que existem vários fatores que resultam no surgimento de um câncer, não quero parecer simplório ao falar de um assunto tão complexo, mas chamo a atenção do lado emocional, deixando claro que é tão importante quanto os outros fatores, ambiental, hereditário, estilo de vida, etc. Um bebê já pode nascer com câncer (fatores hereditários, genéticos), uma pessoa pode desenvolver câncer após exposição à irradiação (fatores externos). E há casos onde aquele câncer é o resultado de conflitos, de uma desorganização interna, que agora passa a ser externa, em um esforço do corpo para mostrar a pessoa que tem algo errado com ela, que tem algo fora do lugar, dando a chance dela se reequilibrar. Algumas pessoas desconsideram esta oportunidade, não querem olhar, apenas arrancam o mal. Mas não pela raiz, pois a raiz nenhum bisturi arranca, é de esforço pessoal de cada um.

No próximo artigo a 5° e última parte sobre este assunto tão interessante.



* A entrevista inteira você lê neste link: http://revistaepoca.globo.com/vida/noticia/2012/02/reynaldo-gianecchini-meu-transplante-foi-um-









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